02/08/2017

Crossover


Na estrada de Moguer, sigo perto da meia-noite
ao volante de um crossover, amante japonês
a leasing ― o sonho
da refinaria projecta o genérico da Miramax:
New York by night, com fedor a estrume
e adubos químicos nos campos de fresa.

À janela do arranha-céus em chamas, nenhuma rapariga
sonha uma comédia romântica, ao ver-me
no habitáculo, desrespeitando limites
de velocidade ou nexo ― talvez
um operário senegalês, na bicicleta de Hulot,
legende com amargo humor: lui, il est heureux.

Desisto da perseguição ao Chevrolet do engenheiro
petroquímico — abandono
a estrada para abastecer numa bomba
com o nome Platero, e eu
penso, ao encaminhar-me para a caixa
— a falta que nos faz
um marketing para a tristeza.