12/07/2017

Exibicionistas tímidos

Cito frequentemente, ou melhor, cito a toda a hora. Alguns vêem nisso uma forma de exibicionismo. Convenci-me, todavia, do contrário: de que se trata de uma estratégia de ocultação. Erguemos uma muralha de frases alheias atrás da qual queremos desaparecer. Mas esta hipótese não invalida a anterior. Lembro-me muitas vezes que, em Robert Walser, a mais absoluta humildade — uma humildade que visava o autoapagamento, a autoanulação (o escritor suíço ambicionava ser o «botão pendente que alguém se esqueceu de pregar») — convizinha com a suprema arrogância. A páginas tantas, Jakob von Gunten confessa: «Eu nunca serei alguém e sabê-lo com toda a certeza faz-me estremecer de estranha satisfação.»