Há dias, discuti com uma querida amiga um daqueles velhos
temas fracturantes sobre os quais, lamentavelmente, ainda tenho opinião. Dos
termos em que travei essa breve discussão não me posso orgulhar. (Felizmente,
tenho ainda amigos que me perdoam tudo, inclusive o facto de, invariavelmente,
ter razão.)* O problema está na veemência um pouco abrupta com que, em
determinadas circunstâncias, me exprimo e que obscurece a validade do ponto de vista
ou do argumento, como aquele actor medíocre que entra para ‘roubar a cena’ ao
protagonista. Não me recordo do contra-argumento mobilizado pela minha
interlocutora, receio até que não houvesse nenhum. Concedo, todavia, que me portei
como aquelas criaturas – um pouco tristes, um pouco cómicas – que se
engalfinham nos frente-a-frentes televisivos, embargando toda a possibilidade
de troca. A única coisa que retive das refutações da minha amiga foi o seguinte
refrão: «Isso não tem lógica.» Esta repetida censura pareceu-me ofensiva, mas
depois revelou-se consoladora. Lembrei-me de Chesterton, para quem «louco não é
aquele que perdeu a lógica, mas aquele que perdeu tudo excepto a lógica». Tenho
de lembrar-me de me pôr em guarda contra teses, doutrinas, pontos de vista que
têm lógica – abundante lógica –, mas apenas têm isso.
* Este aparte deveria ser seguido por um emoji, mas a minha religião não permite.