31/08/2017

Sala de aula

© Paulo Catrica (Liceu Sá de Miranda, Braga, 1999)

A sala aguarda a entrada iminente de professor e alunos, ou então a aula terminou há instantes. Os quadros pretos estão em branco, um deles exibe ainda uma nebulosa de giz. Mas estes não são os únicos suportes da escrita. O que se redige no quadro da sala de aula é apagado no termo da lição — como se todo o saber fosse uma escrita na água —, mas cada carteira é um quadro que contém uma escrita permanente, entalhada na madeira a golpes de esferográfica ou com a chave de casa: nomes, datas, clubes de futebol, bandas de música pop, vulgarismos, promessas de amor eterno, garatujas. O tampo de cada carteira devém palimpsesto, precário reduto de desatenção e indisciplina na geografia ordeira da sala de aula.

Este é um de dois verbetes que – a convite do meu amigo Bruno Monteiro (admirável cabeça sobre ombros tão jovens!) – escrevi sobre fotografias de Paulo Catrica para um Atlas Improvável de Portugal (Santillana Editores) que se encontra, como soía dizer-se, no prelo.