No princípio, era a Palavra. Johnny Cash é um daqueles homens em cuja palavra podemos acreditar. Quando a canção
termina, ouvimo-lo ainda. Dele Leonard Cohen disse que é «a mais alta figura no
círculo da integridade», «a voz mais profunda quando a noite chega». Gosto especialmente
dos discos finais de Cash, os American Recordings produzidos por Rick Rubin.
Formam o testamento musical e espiritual deste fora-da-lei que Bono Vox
comparou a São João Batista — uma voz que clama no deserto. Desses discos
escolho “The Man Comes Around”, canção que abre e fecha com citações do
Apocalipse mas que convoca muitos outros passos bíblicos. Tronos, escadas de
ouro, trombetas, cem milhões de anjos, um cavaleiro chamado Morte, trovões, um
redemoinho: o pano de boca da História abre-se sobre a verdadeira realidade, a única realidade: a segunda
vinda de Cristo. Adora, ou foge.