22/03/2020

O sabonete (um elogio fúnebre)


Que orgulhoso, que activo no início
o seu aroma! Por quantas mãos passou,
que desinteressado serviu, e de cada vez
lá ficava a sujidade. E ele sempre imaculado.
Desgastando-se sem uma queixa.
E assim consumindo-se, mirrando,
sem se dar por ela, já muito fino,
quase transparente,
até que uma manhã
acabou por desaparecer,
não ficou nada. 

Hans Magnus Enzensberger – «O sabonete»,
posto na nossa língua por Alberto Pimenta  
In 66 Poemas (Edições do Saguão, 2019)