18/08/2018

A gente não sabe o lugar certo de colocar o desejo


Há uns anos escrevi uma dissertação de mestrado sobre a peça Desejo Sob os Ulmeiros, de Eugene O’Neill. A epígrafe que escolhi supera aquela centena de páginas que me atribuiu o tristíssimo título de mestre. São apenas dois versos de uma canção de Caetano Veloso, “Pecado Original”, escrita para um filme com argumento de Nelson Rodrigues, o anjo pornográfico do teatro brasileiro. Dizem assim: “A gente não sabe o lugar certo/ de colocar o desejo.” O objecto do desejo é-nos obscuro, é extravagante em termos de sentido ou lógica: como explica Lacan, o desejo é fantasmático. Num auto de Gil Vicente, Satanás desdenha de Adão e Eva porque afinal o fruto que os fez cair era pequenino e sensaborão… É por isso que Caetano canta:
                                  Todo o dia, toda a noite
                                  Toda a hora, toda a madrugada
                                  Momento e manhã
                                  Todo o mundo, todos os segundos do minuto
                                  Vivem a eternidade da maçã.