13/04/2019

Elogio da lentidão (I)

«John Franklin, o navegador que descobriu a Passagem do Noroeste, era uma pessoa muito lenta e dedicou-se a profissões nas quais ser lento era uma vantagem competitiva. Decidiu ser navegador. Quando estava num momento crítico da sua expedição, as temperaturas baixaram muito. O mar começou a gelar e ele tinha de tomar uma decisão. Ele era o capitão. Ia para um lado ou para o outro? A tripulação estava com muito medo e ele demorou muito tempo a decidir. Tomou a decisão certa, mas a tripulação estava muito ansiosa. O biógrafo que contou a sua vida escreveu que Franklin "escapou da morte porque era mais lento do que ela". Há certos erros dos quais, pessoal e colectivamente, só nos livramos se pararmos, se formos um pouco lentos. Se formos capazes de ter uma certa antecipação do futuro. Eu tenho um detector de preguiçosos para as organizações. Quem é o que menos trabalha? É o que está mais agitado. E por vezes o mais lento é o que está a trabalhar mais, o que está a transformar. No mundo actual, há demasiada agitação improdutiva. Na política isto também se aplica. Há uma grande agitação, mas há uma grande incapacidade de transformar.»
Daniel Innerarity, politólogo basco, aqui.