13/09/2017

A-TRA-SA-DO

Na Infância em Berlim por volta de 1900, Walter Benjamin conta que, quando era criança, o relógio da escola parecia danificado por sua culpa. Marcava sempre a mesma hora. Que hora era essa? A hora que agora o meu relógio de adulto teima em marcar a todo o momento, como se estivesse avariado: A-TRA-SA-DO. Eu deveria talvez fazer como Baudelaire, de quem se conta que abriu o seu relógio de prateleira — um clássico relógio de mostrador redondo e números romanos, embutido numa caixa de mogno —, removeu os ponteiros e escreveu no mostrador: É mais tarde do que pensas.