13/10/2017

Uma ária na flauta

Na aula de ontem, despendi os melhores esforços a explicar aos meus alunos por que razão eles devem ler os clássicos. Por vezes, este argumentário redunda numa atitude catequética algo rançosa – lemos os clássicos para compreender quem somos – ou em enfáticas sublimidades à la George Steiner: os clássicos contêm a gramática do humano. Sucede que nenhum dos argumentos que podemos invocar supera — em verdade — aquele que subjaz a esta historieta relatada (ou efabulada) por Cioran: «Enquanto lhe preparavam a cicuta, Sócrates pôs-se a aprender uma ária na flauta. “Para que te servirá?”, perguntaram-lhe. “Para saber esta ária antes de morrer.”» Perdemos tempo a esgrimir argumentos: como diz Macbeth, a nossa espada grava em falso. Devemos ler os clássicos porque, conforme conclui Calvino, é melhor lê-los do que não os ler.